Crítica – A encantadora história do circo – Adailtom Alves Teixeira
O circo sempre encantou por colocar o ser humano em seus limites, seja os do ridículo, como fazem os palhaços, seja os do extraordinário, como os trapezistas. Mas ser um artista circense sem nascer no mundo do circo é algo bastante recente na história dessa arte no Brasil. Até a década de 1980 para aprender a arte circense era necessário pertencer a uma família dita “tradicional” ou fugir com o circo, como se dizia. Tudo isso é passado e hoje muitas são as possibilidades de se adentrar o mundo da arte circense e o Circo Teatro Palombar, composto por jovens artistas é a demonstração clara dessa mudança.
Fruto de um projeto criado no Centro Cultural Arte em Construção – sede do Pombas Urbanas em Cidade Tiradentes, situado no limite leste da cidade de São Paulo – e coordenado por Adriano Mauriz, o coletivo é formado por jovens que dominam diversas técnicas: malabares, monociclo, pirofagia, trapézio, contorção, mágica, mas sobretudo, a técnica do palhaço, elo de ligação entre as demais. O projeto que deu origem, o Somos do Circo, foi criado em 2005, mas os aprendizes formaram o coletivo em 2012, com o objetivo de estudar a história do circo e seu entorno, isto é, saber se em seu bairro havia pessoas ligadas ao mundo do circo. Dessa forma, nasceu o espetáculo Nós na Lona – uma arriscada trama de picadeiro e asfalto.
A história é bastante simples, porém eficiente, visa passar em revista toda a história do circo, desde a antiguidade chinesa e greco-romana, passando pelos saltimbancos medievais, os cômicos dell`arte, chegando ao circo moderno com Philip Astley. A cada momento histórico um número circense é apresentado. Quem conta a história é um mestre de cerimônias já cansado de sustentar a tradição. Conta para um “vendedor ambulante”, que ao longo da história vai se apaixonando pela história, ao mesmo tempo em que vai se tornando um palhaço.
O espetáculo apresentado na 8ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, no dia 03 de dezembro de 2013, criou uma roda em torno de si de mais de 500 pessoas, que ficaram maravilhadas, tanto pela destreza dos números apresentados, como pela força daqueles jovens artistas. Não é um espetáculo curto, tem mais de hora de duração, ainda assim, o público não arredou pé, mesmo nos momentos mais frágeis, como, por exemplo, em cenas de muitas falas e em que a voz dos artistas não chegam a todos. O espetáculo parece ter sido criado pensando uma cena pequena, para poucas pessoas, por outro lado, a estrutura de banda (charanga), trapézio e cenário são grandiosos, criando certa contradição, entre o que se propõe e o que se apresenta enquanto estrutura. Porém, toda a espetacularidade do circo está presente. Os jovens se desnudam artisticamente, é um espetáculo muito verdadeiro e que apresenta toda a paixão de seus criadores pelo mundo do circo, uma bela homenagem, inclusive, reverenciam os nossos grandes palhaços como os Picolinos (Roger Avanzi, Nerino Avanzi e Roger Avanzi Filho).
O público, encantado, vê até o que não é mostrado, como uma senhora que estava com sua filha ao ver um beijo falso entre a índia Potira (Esmael Ferreira) e uma pessoa do pública, chamada a participar da cena. A senhora afirmou: “não é que ele beijou a boca dela mesmo!” Nem houve beijo e nem era ela, mas a verdade é tamanha que convenceu a assistente, que depois chamou sua filha para ir embora, mas a menina se recusou, assim, ficaram até o final do espetáculo.
No espetáculo, a todo momento, os artistas buscam a participação do público. O momento alto é no malabares com os facões e no número com as facas. O primeiro pela destreza, o segundo pelas brincadeiras de palhaços durante a execução do número, tornando o público cúmplice na armação. As tiradas de palhaço, as armações em que tornam o público cúmplice das trapaças, deixam o espetáculo excessivamente delicioso.
O momento frágil é quando tratam da commedia dell`arte, apesar do treinamento corporal, a cena não mostra os tipos e uso da máscara não é bem utilizado. Poderiam também encurtar um pouco toda a história, o que tornaria o espetáculo ainda mais dinâmico. Mas, é importante lembrar que se trata do primeiro espetáculo da trupe, logo, é certo que irão crescer bastante.
No momento de passar o chapéu, o primeiro a contribuir foi um senhor que participou bastante, intervindo nas cenas, colocou suas moedas e fez questão de beijar a índia Potira. Retribuiu a gentileza de ser bem recebido e aceito por todos daquela trupe. O coletivo, coordenado por Adriano Mauriz, é composto por Esmael Ferreira, Guilherme Silveira, Henrique Nobre, Leonardo Galdino, Letícia Cássia, Marcelo Nobre, Paulo Wesley, Rafael Garcia, Telber Victor e conta com a participação de Juliana Flory e Cinthia Arruda.